Cansa ir devagar. A gente pensa demais, pesa demais, considera demais. As melhores decisões que já tomei na vida foram no impulso, num rompante de assertividade. Porque ponderar é importante, mas sentir no peito a decisão certa, é poderoso. Só que agora os planos ficam resguardados nas tantas caixas do futuro, abstratos, disformes, ansiosos. Planos velados, mas sedentos por consumação. É curioso: se pego um cardápio na mão, me demoro a escolher o que apraz. Nas pequenices, me perco, me enrolo. No que é determinante, porém, me encorajo. Porque a gente sente o peso da importância, e fica fácil de enxergar.
.
Não vejo a hora de tomar as pequenas e as grandes decisões novamente. De me afogar num mar de possibilidades. De me ver perdida em frente a uma mesa de café da manhã repleta de pequenas indulgências. Saudade até das minhas mais bobas indecisões.
Cansa ir devagar
O primeiro gole de café do dia
Uma das minhas sensações preferidas do mundo é o primeiro gole de café do dia. É a antecipação da euforia, a previsão do entusiasmo. Sentir expectativa é uma delícia, e se permitir perceber ela é um presente. Significa ter o que esperar – parece pouco, mas na verdade é tudo. E pode ser até mesmo espera pro próximo minuto, quando surge uma inspiração ou uma mensagem ou um beijo. E pode ser até mesmo espera pra um futuro distante, fantasioso, mágico: uma casa no interior, lenha queimando no fogão e árvores majestosas oferecendo frutos e sombra. Por enquanto, viver o presente é sonhar com um futuro bonito. E ir tomando goles de café pra manter o otimismo pulsando aqui dentro. Uma das minhas sensações preferidas do mundo é o primeiro gole de café do dia. Um. Dia. De. Cada. Vez.
Às vezes eu tenho medo de esquecer
Às vezes tenho medo de esquecer que a quarentena não é pausa. Que o tempo segue implacável, atravessando, transgredindo os dias com a violência do que passa batido. Com a brutalidade de estar vivo e não viver. O tempo, vivido assim, é tirano. Porque vida sem todos os abraços é meia-vida, somente.
.
E daí entram os pequenos afagos: um café da manhã especial, um chamego. Uma surpresa, uma playlist só com as músicas preferidas. Frutinhas pra cuidar da saúde, mensagens pra atenuar a saudade. Prestar atenção também é um presente. A vida, afinal, é tudo o que a gente tem. Enclausurada, não pausada. Viva.
Eu nunca tinha sonhado andar de balão
Eu nunca tinha sonhado andar de balão. Lembro dos olhos marejarem à medida que ele subia, cruzando os cafezais e os morros e as casinhas que se apequenavam. O céu era tão, tão azul, que doía. É estranho sentir dor quando não cabe? Acho que era dor de entender ser finito, e que logo meus pés estariam firmes no chão, mesmo querendo voar. Andar de balão é entrega, é deixar o destino pro fogo e pro vento. É arcaico, é místico, mesmo também sendo lógico. É impreciso. Voamos por mais tempo do que o planejado, pousamos no meio da estrada. É imperfeito. O tecido technicolor contrastando com o cenário bucólico encheu meus olhos novamente. Eu realizei um sonho que não sabia ter.
O que aprendi lá pros lados das Minas Gerais
Sobre a viagem que me fez enxergar o café não somente como dose diária de otimismo, mas também como alimento. Que me ensinou a valorizar cada gota, a amar o ritual, a apreciar com calma. Que me mostrou que alguns goles podem ser o suficiente quando são de qualidade, e que o desperdício não deve ser tolerado. Que café é fruta doce, delicada, e que assim deve ser tratada em todo o seu processo. Que café é fruto de muito trabalho, trabalho pesado, trabalho incansável, que só a paixão explica.
Café energiza, alimenta, inspira. Que lindo foi te conhecer melhor ☕️