domingo, junho 22, 2025
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Hoje eu faço 30 anos

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Hoje eu faço 30 anos

Hoje eu faço 30 anos. Acordei cedinho, como sempre, sem ter conseguido esperar até a meia noite pra ir dormir com a consciência da nova idade. Parece especial começar uma década. Mas sabe, pra quem leva a vida como uma dádiva, não existe um dia sequer que não seja importante. Mesmo aqueles em que nada acontece, ou aqueles que te derrubam e te perpassam como uma lâmina afiada. Porque tudo é aprendizado. São trinta anos de transformação. Todos os dias eu mudo um pouquinho, e um dos maiores aprendizados é entender que isso é bom: amar a tua essência a ponto de sempre aceitar o diferente, de coração aberto e ouvidos atentos à mudança.

Porque o mundo transmuta todos os dias, e as necessidades também. Perceber e amar a evolução, e revolucionar tudo o que não agrega. Sempre fui muito grata por estar viva, sempre fui muito grata aos meus afetos. Eu vivo pro amor, e esse talvez seja o único aspecto imutável em mim. Eu só tenho a agradecer pelas pessoas da minha vida, e pelas oportunidades que eu tenho. Sou feliz a maior parte do tempo, aceito meus momentos de tristeza, abraço cada parte de mim. Com certeza eu não sou quem a Bárbara criança imaginou. Que bom. Hoje eu faço 30 anos, e sou exatamente quem eu era pra ser 💗

Hoje eu faço 30 anos

São estranhos os dias em que não acontece nada

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São estranhos os dias em que não acontece nada. Claro que as folhas das árvores continuam sacudindo forte com a ventania, e as pessoas mascaradas continuam caminhando com pressa pelas ruas, e as chaleiras continuam chiando com a água fervente pro café. De resto, só espera. O curioso é que não se sabe sequer o que esperar, o que deixa o dia ainda mais esquisito – dá pra esperar por tanta coisa. As plantas crescerem e darem frutos, um telefonema com potencial de alterar tudo, uma encomenda que vem pelo correio, uma declaração de amor, a cura pro que nos aflige e nos mata. Às vezes, a espera e o sonho se confundem, e não sabemos mais se é uma espera ou um desejo. Esperar é cansativo, sonhar é necessário.

Nos dias estranhos em que não acontece nada, eu continuo preparando uma térmica de chá, que aplaca a angústia da espera, e continuo lendo um livro, que estimula tão ricamente os sonhos. Descasco laranjas do sítio e observo as gotículas de óleo borrifando e perfumando o ar. Relembro dias bons de calmaria interior, e tento trazer eles pra perto de mim. São estranhos os dias em que não acontece nada. Mas acontecer nada, afinal, já é alguma coisa: ainda estou aqui.

São estranhos os dias em que não acontece nada

O que eu queria

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O que eu queria

Queria acordar no sítio, passar meu café, sentar na varanda e ler um pouco. Aprender um ponto de bordado com a vó, fazer almoço com a mãe, visitar as abelhas com o pai, conversar com o vô sobre o livro novo dele. Com calma. Queria fazer nada por horas, e deixar o celular longe. Queria fotografar meus pratos de comida com o céu de fundo. Queria meu tio implicando comigo porque a gente adora implicar um com o outro. Queria sair pelas trilhas e ouvir o som das folhas secas estalando. Queria alguém me chamando sempre que um passarinho pousa por perto. Queria fazer waffle ou pão de queijo pro lanche da tarde, porque todos ficam felizes com uma coisinha especial.

Queria deitar na rede e me embalar, até pegar no sono. Queria ver verde pra todos os lados, e me impressionar sempre com a luz laranja do pôr-do-sol. Queria me surpreender com o arco-íris que se forma na parede quando o dia tá acabando, mesmo que já seja um velho conhecido. Queria abrir um vinho de noite com a família, e comer queijos e pãozinho frito na manteiga. Queria até jogar carta, que volta e meia eu escapo. Ver Tangos e Tragédias com todos na sala, e rir até chorar. Queria dormir com o barulho dos grilos, e pedir pro pai tirar um que pousou no meu travesseiro. Queria sentar na cadeira de balanço e fechar os olhos, sabendo que, ao abrir, vou ver a minha cena favorita.

A vida simples e sem pressa é a vida mais linda do mundo 💚 Obrigada, @sitioguamirim 🌳🌼🌈

O que eu queria

A chuva cai fininha do céu

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A chuva cai fininha no céu

A chuva cai fininha do céu, alheia à minha observação. É muito fácil me imaginar vestindo um casaco impermeável, calçando botas quentinhas e batendo a porta de casa, deixando pra trás a cozinha com seu aroma infinito de café. Sorrindo, me vejo cantarolando na rua, agitando minhas baquetas imaginárias e me assustando com o cachorro que late com o focinho enfiado entre as grades do portão, sorrateiro. Com facilidade me enxergo desviando dos galhos das árvores, cuja posição eu decorei, instintivamente, após tantos percursos. Posso sentir o cheiro defumado que se esgueira da entrada lateral da churrascaria, e me vejo cumprimentando, com um meneio de cabeça, os cozinheiros que fumam escorados na parede.

Não sem um aperto, vislumbro as calçadas cheias de gente, os guarda-chuvas se chocando de quando em quando. Vejo meu pé direito afundando em uma lajota solta, que desanda em água, e sinto os respingos de um carro que passa sem se importar com nada. Me vejo esbarrando com conhecidos na rua, falando amenidades e me despedindo com um “a gente se fala”. Me encontro inquieta esperando o sinal abrir pra atravessar a João Pessoa, e me vejo decidindo continuar daquele lado da rua, pra aproveitar a proximidade com a Redenção mais um tantinho. Piso em poças propositalmente, protegida pelas botas, e rio ao notar dois cachorros brincando de um jeito despreocupado, rolando na areia enlameada. Me pego observando um casal, que caminha abraçado, com as cabeças pendendo em proximidade. Imagino sua história, pra logo me perder novamente em outras pessoas que me atravessam.

Com pesar, me percebo em casa, em devaneio. Sinto a rua pulsando aqui dentro. Me sirvo mais uma xícara de café, inebriada pelo aroma. Até as memórias mais banais me confortam.

A chuva cai fininha do céu